A Itália de Marie d’Agoult e Franz Liszt



Podemos ou não concordar com as análises e aproximações entre as artes de Marie d’Agoult e Franz Liszt. Mas me parece inatacável a relevância e argúcia do olhar do casal. Eles partem para a Itália em 1837-38. No caminho, antes de chegar, se hospedam em Nohant, na mítica casa de George Sand. Fortuita amizade, especialmente para nós. Tanto Marie d’Agoult quanto George Sand escreviam de modo voraz. Iniciam uma enorme correspondência e a viagem do casal pode ser contemplada à lupa. 

Josef Danhauser. Liszt ao Piano. 1840


Liszt procura compreender as artes plásticas por meio da música e também o seu contrário. Essa aproximação nasce de certo “espírito” não correspondente, mas de aspectos que iluminam um ou outro. De Roma, ele escreve para Berlioz: “A arte se revelou para mim em sua universalidade e em sua unidade. Rafael e Michelangelo me fizeram melhor compreender Mozart e Beethoven [...]”. Poderíamos inferir da sobriedade, das pulsões etc, mas talvez seja uma compreensão pessoal, íntima.

Marie anota no dia 03 de setembro deste ano algumas linhas sobre o Casamento da Virgem, de Rafael


O casamento da Virgem tem interesse porque é dos primeiros anos de Rafael que não tinha senão vinte anos quando ele fez esse quadro, mas a composição é monótona, a pintura seca e os rostos dos homens muito efeminados. Franz não tem nenhum apreço por estes tipos de Virgens repetidas a saciedade pelas escolas italianas. Para ele essas virgens são comuns e totalmente desprovidas de inteligência.


Os pontos são precisos: monotonia, figuras efeminadas etc.

Rafael Sanzio. Casamento da Virgem 1504.


O casal nutria a amizade de todos, até mesmo de polos aparentemente separados como Ingres e Delacroix. Em Roma encontra Lehmann (amigo íntimo do casal), Chassériau e especialmente Ingres. Liszt escreve a Massart:


Eu vejo frequentemente o Sr. Ingres que é muito benevolente comigo. Fazemos música juntos. Saiba que ele toca muito bem violino. Temos a ambição de rever todo o Mozart e Beethoven.


A viagem e os encontros - com personalidades, obras de artes, arquitetura etc. - intensificam um novo olhar para tudo aquilo que os cercam.


Henri Lehmann. Retrato do jovem Franz Liszt. 1839

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