As dificuldades de voar


Lady Bird, de Greta Gerwig, não é somente um filme sobre a relação de uma jovem com a mãe. Ainda que traga de forma leve os clichês da adolescência, sua força reside nos aspectos materiais do começo da vida adulta, como a hora de escolher uma universidade – ou melhor, ser escolhido – e como pagar por ela.


A mãe de Lady Bird é uma enfermeira que trabalha mais do que deve. Seu pai, desempregado, é figura de pouca autoridade e enfrenta as dificuldades de se saber inútil na divisão social do trabalho. Nem mesmo o irmão, formado em Berkley, escapa ao emprego precário. A jovem faz o que pode para esconder sua realidade dos amigos ricos. Ainda que vivido em 2002, o filme não evoca os EUA pós 11 de setembro, mas o país que lutava para deixar a crise de 2008 para trás e acabou encontrando Donald Trump. 





Os conflitos da adolescência se diluem na vida de um tipo americano real - pobre do primeiro mundo, com padrão de vida abaixo da classe média brasileira - e suas dificuldades em melhorar de vida. Em um diálogo com a mãe, a garota pergunta: “E se essa for a melhor versão de mim mesma?”. Fica sem resposta. Bem, talvez o melhor de nós tenha menos a ver com nosso esforço do que gostaríamos. Lady Bird faz pensar que mesmo na terra oportunidade, a meritocracia vale pouco perto de ser bem-nascido.

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