Notas sobre Pantera Negra - I


*AVISO DE SPOILERS: esse texto contem revelações da trama do filme Pantera Negra que podem aborrecer quem ainda não viu e pretende assistir. Fica o toque.*


Saindo da sessão do filme Pantera Negra, de Ryan Coogler, comentei com a minha namorada o quanto o vilão, o gangsta fodão zica do pântano Eric Killmonger, era infinitamente superior ao herói T'Challa, um rei bunda mole que nem lutar direito sabia. E o quão frustrante foi ver um personagem forte, complexo e carismático daqueles, um homem que sofreu as dores de ser negro num gueto dos Estados Unidos, ser morto pelo próprio primo, um monarca de uma nação inimaginavelmente rica que nunca deu a mínima atenção para o holocausto da população negra em todo o mundo. Concordamos: Killmonger não deveria ter sido morto.

No dia seguinte vi uma postagem do meu amigo Fernando Mekaru compartilhando o texto do professor de filosofia Christopher Lebron intitulado “‘PanteraNegra’ não é o filme que merecemos”. Basta clicar no link, recomendo a leitura. A seguir, seleciono um de seus parágrafos que melhor sintetiza sua reflexão:

"Pantera Negra se apresenta como a experiência negra mais radical deste ano. Deveríamos nos sentir encorajados com as imagens de T'Challa, um homem negro vestido em um poderoso traje de combate que rasga os caras maus que ameaçam as pessoas boas. Mas as lições que tirei foram essas: o cara mau é o negro americano que definiu corretamente a supremacia branca como a ameaça reinante ao bem-estar negro; o cara mau é o que pensa que Wakanda está sendo egoísta em sua libertação secreta; o cara mau é o que não mais escolhe a paciência e a moderação - ele acha que a libertação está muitas, muitas décadas atrasada. E o herói negro o mata."

Magneto, um sobrevivente judeu dos campos de concentração nazista, é um vilão formidável, que rompe com o professor Charles Xavier e sua política pacifista de não agressão e propõe o confronto direto com aqueles que pretendem encarcerar os mutantes. Xavier nunca quis matá-lo. Queria convertê-lo.

Loki, irmão do poderoso Thor, arquiteta as piores artimanhas para destruir o planeta, arrasando cidades inteiras, e tentando várias vezes matar seu irmão. Ele apanha de vários dos heróis e é preso. Ninguém o mata. Tempos depois, com outra mentalidade, luta ao lado do irmão contra invasores de Asgard.

Por que Killmonger precisou ser morto?



Comentários

  1. Talvez seja difícil negar o impacto cultural "Pantera Negra". O mais recente longa da Marvel pode ser considerado tão importante para o movimento negro nos dias de hoje, como "Mulher Maravilha" foi -e é- para neo-feminismo. Porém, ainda em comparação, o filme da amazona parece mais completo, por assim dizer, do que o do herói de Wakanda. Enquanto o filme da DC equilibra bem a relação entre a ilha onde a heroína nasceu e o mundo exterior, o mesmo não acontece na história do rei T'Challa. O interessante debate a respeito da abertura ou não do país africano superdesenvolvido para o resto do mundo fica muito mais no plano do discurso do que em ações. A luta entre o protagonista e seu primo -também nascido em Wakanda- traz em seu bojo tanto a vingança familiar quanto a disputa entre uma visão globalista e outra nacionalista (no melhor sentido da palavra) em relação ao papel da nação africana no mundo. Talvez para indicar um caminho, o filme termine com a irmã de T'Challa recebendo a responsabilidade de cuidar de um centro de tecnologia voltado à crianças carentes em um bairro periférico estadunidense...

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