Terrível modernidade

Espaço de meditação. Um cilindro austero, oco. Destinado à ascese. Para entrar, é preciso subir uma rampa.





Foi construído pelo arquiteto japonês Tadao Ando, em 1995. Encomenda da Unesco, para sua sede, que fica em Paris. celebrando os 50 anos da instituição. Em 1945 terminava a Segunda Guerra Mundial. Ando faz do espaço de meditação um espaço de memória, ao empregar, no solo, pedras irradiadas que vieram de Hiroshima.
Num pátio interno, o edifício remete ao Tempietto, de Bramante. Mas sem as colunas, impõe um corte entre o fora e o dentro.
À nudez externa corresponde nudez interior. Mago da luz, Ando difunde uma penumbra neutra, que parece vir de outro mundo.


A sensação é de aridez racional. Mas algumas cadeiras em metal, enormes, dramatizam o espaço. Tronos vazios.



A cenografia irreal faz apelo aos paradigmas mais caros à modernidade: despojamento, racionalidade geométrica, material sem disfarce, rigor da composição. Tadao Ando os emprega para impor a impressão de um vazio que cria solenidade e poder implacável. Um vazio que faz pairar, no ar, a ameaça dos fascismos diversos. O autoritarismo da modernidade, seu mundo rarefeito, serviu adequadamente para a denúncia do autoritarismo. Uma serpente que morde a própria cauda.


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