O mundo dos homens


Eu não sou um homem fácil, de Éléonore Pourriat, 2018.



Christophe é um publicitário de sucesso, egoísta e charmoso, um conquistador inveterado. O mundo definitivamente está aos seus pés. Até que, ao bater de cara num poste, acorda num mundo invertido onde os gêneros masculino-feminino estão trocados. O patriarcado que sempre o sustentou e justificou não existe mais.

Essa é a premissa do primeiro longa da atriz e diretora francesa Eleonore Pourriat, já disponível na Netflix, que em 2010 havia lançado seu primeira curta, Maioria oprimida, com o mesmo tema, que ela desenvolve aqui. Embora com somente 10 minutos, é forte e potente.


Mas voltando ao longa, ele começa muito bem, com o protagonista num divã falando sobre um trauma de infância envolvendo questões de identidade de gênero. A cena onde ele apresenta uma nova idéia no escritório é caricata, talvez porque o filme não queira perder muito tempo em retratar essa rotina de machista alegre e livre. Em cinco minutos já estamos no outro universo.

Não se trata contudo de um esforço de imaginar uma distopia onde as mulheres se estabeleceram como o gênero dominante. Mas sim o de inverter os tradicionais papéis de gênero vigentes em nossa sociedade. Desta forma temos as mulheres fisicamente mais fortes, grosseiras, assediadoras, violentas. Enquanto os homens são sensíveis, sonhadores, emotivos. É a tese da autora, e partindo dela a história se desenvolve com muita coerência.

Há em alguns momentos, sobretudo no último terço, uma adequação um tanto artificial para os moldes de uma comédia romântica, mas nada que atrapalhe muito.

O elenco no geral é bom, mas achei o casal protagonista Pierre Benezit e Marie-Sophie Ferdane um pouco sem carisma. Demorei pra me conectar com os dois. Os atores coadjuvantes são bem melhores.

Pra quem espera rir muito, há mais seriedade que piadas. A intenção de fazer refletir nos absurdos machistas de nossa sociedade é bem sucedido, muito em função da criação desse mundo dominado por mulheres masculinas. O que para nós é normalizado, quando invertido fica ridículo. É uma produção espirituosa, ainda que dolorosa em diversos momentos. E o final é não menos que brilhante. 



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