O cinema nasce como curiosidade tecnológica. E novidades uma
hora deixam de ser novidades. Passado o oba-oba daquela máquina que projetava
fotos em movimento na tela branca, permaneceu a questão sobre o que fazer. A
solução foi simples: bastou que os produtores estendessem o braço para agarrar
um dos populares fascículos quinzenais com histórias policiais e de aventuras,
na época muito em voga na Europa, sobretudo na França.
Foi assim que surgiu o seriado. Bem antes de um Griffith
revolucionar a linguagem do cinema, as casas de projeção já exibiam episódios curtos
semanais apresentando as aventuras de heróis lutando contra terríveis vilões –
não sem antes salvar a mocinha indefesa - e atraindo muito público.
Esses seriados se desenvolveram como parte da série B dos
estúdios, com baixo orçamento, personagens caricatos e arquetípicos, e fórmulas
simplificadas.
Fantosmas, de Louis Feuillade, de 1913. |
The Million Dollar Mystery, de Howell Hansel, 1914. |
What Happened to Mary, de Ashley Miller e Charles Brabin, 1912. |
Foi então que em 1936 saiu Flash Gordon, série em 13 capítulos, a primeira adaptação do quadrinhos para os cinemas.Sucesso absoluto.
Flash Gordon, de Frederick Stephani, 1936. |
Anos depois, em 1941, foi lançado o seriado em 12
capítulos The Adventures of Captain Marvel, também um sucesso.
Adventures of Captain Marvel, de William Witney e John English, 1941. |
A onda de filmes de super-heróis talvez tenha tomado
realmente força no ano 2000, com o estrondoso sucesso de X-Men, de Bryan
Singer. Em 2002 foi a vez de Sam Raimi criar a quintessência da aventura com
seu incrível Homem Aranha. Cada um deles recebeu suas respectivas seqüências,
sempre com muito sucesso. Mas ainda eram diretores com forte traço autoral, que
não hesitavam em subverter o material original. O fracasso de Hulk, de Ang Lee,
anunciou o divórcio entre cinema de autor e filmes de herói.
Foi quando, em 2008, Jon Favreau dirigiu O Homem de Ferro. Divertido,
com grande senso de aventura, e sobretudo: fiel ao material original. Seguiu-se
a isso filmes que dialogavam entre si: Capitão América e Thor, ambos de 2011. Tudo
culmina em Os Vingadores, de 2012, que reunia uma dúzia de heróis numa trama
bem amarrada. Sempre seguindo a regra de ouro: fidelidade aos quadrinhos. Além de coerência entre as diferentes histórias.
Em essência, está aí o espírito dos antigos seriados. A
diferença é que não são mais semanais, nem de baixo orçamento.
Recentemente, numa entrevista à revista Radio Times, a atriz
e diretora Jodie Foster fez a seguinte declaração:
"Ir ao cinema atualmente se tornou uma experiência como ir a um parque de diversões. Estúdios produzem conteúdos ruins para apelar para as massas e investidores, e é como extrair petróleo. Você ganha muito dinheiro agora, mas você destrói a terra. Isto está arruinando com o hábito de consumo de filmes do público americano e, no fim das contas, do resto do mundo. Eu não quero fazer um filme de US$ 200 milhões sobre super-heróis."
Bem, como tentei explicar nesta postagem, os seriados de heróis
sempre existiram, e pessoalmente espero que continuem existindo. Apontá-los como o cavaleiro do apocalipse da arte cinematográfica é senil, pra dizer o mínimo. Veja este novo
OS VINGADORES: GUERRA INFINITA. É extraordinário como a história flui, mesmo
com duas dúzias de personagens importantes atuando nela. Faz pensar num
daqueles filmes do Robert Altman onde temos dezenas de personagens (guardadas
as devidas proporções, claro).
Com Guerra Infinita os irmãos Russo criam cinema da melhor
qualidade. É divertido, visualmente arrebatador, dramático. O público sente apreensão verdadeira, não há zona de conforto, a história permite que qualquer coisa aconteça. Para quem não
acompanhou os episódios anteriores certamente ficará perdido. Mas é essa a
natureza das séries.
Muito bom! E o seu cartaz do Guerra Infinita é uma verdade uma obra prima.
ResponderExcluirHahhaha, valeu!
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