O adjetivo “genial” pode ser desgastado e um pouco fora de moda.
Mas não consigo conceber outra palavra para designar o trabalho de Alex Majoli.
Scene #8040, São Paulo, Brazil, 17 de junho de 2014,
foto de Alex Majoli (divulgação)
Majoli
(a pronúncia é Maióli) nasceu em 1971, em Ravena, cidade dos luminosos mosaicos
medievais. Lá, estudou artes e participou da agência fotográfica F45. Passou a
atuar para imprensa autonomamente em países como a antiga Iugoslávia, Grécia,
Brasil, China, República do Congo e Estados Unidos. Integra a agência Magnum e
vem abordando desde questões manicomiais ou ligadas a conflitos armados até
às de caráter mais ameno, do cotidiano e de situações intimistas.
Em
abril de 2018 inaugurou-se no Museo d’Arte della città di Ravenna, o MAR, a
exposição Andante, com vídeos e fotografias feitos por Majoli desde 1985.
Obras e salas da
exposição Andante (fotos: Alex Miyoshi)
Curada
por Majoli, a exposição ocupa três andares do museu, do qual o terceiro é
dedicado à Scene, seção co-curada por Diane Dufour, David Campanyuno e Cyrill Delhomme.
Obras e salas da seção Scene da exposição Andante (fotos: Alex Miyoshi)
Scene #3304, Yi Xian, China, 2016, foto de Alex Majoli (divulgação)
Scene #1095,
Pointe Noire, Congo, 2013, foto de Alex Majoli (divulgação)
O barroco vem à mente, seja na abordagem caravagesca ou em
composições ao modo de Géricault e Delacroix. Percebe-se também, em toda a produção
de Majoli, uma teatralidade que ele mesmo reconhece exaltar.
A teatralidade em situações “reais” já havia sido explorada
por Majoli na exposição SKÊNÊ, feita na Greenberg Gallery, de Nova York,
em 2017. Ben Taub, da New Yorker, cravou a expressão: “O mundo como um
palco do fotojornalista”.
Scene #0435,
Republic of Congo, 2013, foto de Alex Majoli (divulgação, exposição SKÊNÊ,
Greenberg Gallery, Nova York)
Scene #60410,
Lesvos, Greece, 2015, foto de Alex Majoli (divulgação, exposição SKÊNÊ,
Greenberg Gallery, Nova York)
Scene #9539,
Brazil, 2010, foto de Alex Majoli (divulgação, exposição SKÊNÊ, Greenberg
Gallery, Nova York)
Uma parte da crítica e o diretor do MAR, por sua vez,
qualificam os registros de Majoli como mescla de realidade e ficção, o que sem
dúvida lhes cabe. Há, porém, uma concretude esmagadora que quase não deixa
espaço para abstração, um realismo que nega a si mesmo sem no entanto ser non
sense nem surreal.
O sentido das imagens confunde-se também graças à solução no
modo de expor obras e legendas. A mostra não prescinde das palavras e usa até
mesmo frases de Pirandello, dentre outros, mas de forma comedida. As legendas
não são dispostas individualmente sob cada quadro e sim em conjunto discreto de
pequenos desenhos, quase infantis, postos no canto da sala como que criando
outra obra, ou outra realidade. Nos auxiliam desse modo a compreender um pouco
do quê, do onde e do quando cada situação foi fotografada. Com isso, outros
aspectos se sobrepõem: o suspense, o drama, às vezes também o humor,
presentes igualmente nos vídeos de Majoli. Assista-se, por exemplo, um trecho
de Mermaids.
Trecho de Mermaids
(2013), de Alex Majoli, acompanhado pela canção homônima de Nick
Cave & The Bad Seeds (vídeo: Alex Miyoshi)
Única nota dissonante: o catálogo lamentavelmente não
corresponde em qualidade à mostra, parecendo ser um livro independente dela. O
projeto gráfico cool, exercício enfadonho de dobragem e desdobragem de papeis,
inviabiliza a apreensão das sutilezas de Andante. Muito melhor
acompanhar este vídeo
sobre a exposição e o trabalho de Majoli.
Catálogo da
exposição Andante (divulgação)
Fontes:
http://www.mar.ra.it/ita/Mostra/Andante.-Alex-Majoli
https://www.icp.org/browse/archive/constituents/alex-majoli?all/all/all/all/0
http://www.artribune.com/arti-visive/fotografia/2018/04/video-alex-majoli-andante-mostra-mar-ravenna/
http://photographmag.com/reviews/alex-majoli-skene-at-howard-greenberg-gallery/
https://www.newyorker.com/culture/photo-booth/alex-majolis-skene-the-world-as-a-photojournalists-stage
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