A velha história sobre atribuição em Rembrandt se repete. Está exposto no Museu Hermitage em Amsterdã até 15 de junho, o "Retrato de Jovem", uma pintura recém-descoberta do mestre holandês. Pelo menos é o que diz o marchand Jan Six, que comprou a obra em um leilão realizado na Christie’s em 2016 por cerca de 185 mil dólares. Uma pechincha se de fato se tratar de um Rembrandt. Pintado entre 1630 e 1635, o quadro foi atribuído a um seguidor do mestre na ocasião da compra. Six, aliás, tem um antepassado homônimo, imortalizado pelo pintor no célebre “Retrato de Jan Six”.
O recém-descoberto "Retrato de Jovem", 1630-35, 94x73cm
Agora, a missão do marchand é provar que a tela foi de fato tocada pelos pincéis
do artista. Para isso, publicou um livro mostrando que se trata de uma
pintura “genuína”, no qual aponta detalhes como a fatura da renda da gola, ou a subjetividade
no olhar do modelo. Também foram realizados estudos nos pigmentos e radiografias. Mesmo sem evidências definitivas, os argumentos
de Six foram endossados pela maior autoridade na obra de Rembrandt, o
octogenário pesquisador Ernst van de Wetering.
Retrato de Jan Six, 1654, 102x112cm - Six Collection
Van
de Wetering é o último membro vivo do Rembrandt Research Project, uma comissão
formada nos anos 60 que se dedicou a reduzir a obra de Rembrandt quase pela
metade, incluindo o “Autorretrato com corrente de ouro” do acervo do MASP. O
quadro do museu paulista, também feito entre 1630 e 1635, traz algumas
semelhanças com a nova pintura, como detalhes nas sobrancelhas e nos olhos e a luminosidade
na região do nariz. Pergunto-me se a pintura recém-descoberta teria passado
pelo crivo da comissão nos anos 80, quando o retrato do MASP foi desatribuído.
Autorretrato com corrente de ouro, 1635, 64x45cm, MASP
Mas ainda que importantes especialistas como Petria Noble, chefe de conservação do
Rijksmuseum, peçam mais estudos antes de uma conclusão, ninguém mais parece ter dúvidas de que se trata de
um legítimo Rembrandt. Alardeada como a maior
descoberta sobre o artista nos últimos 44 anos, a promoção da pintura segue um roteiro
de espetáculo, que dá grande destaque para a “descoberta” e deixa em segundo
plano qualquer debate sério sobre autoria. Se o marchand estiver mesmo certo, o valor do quadro deve passar a marca de 100 milhões de dólares.
Six já anunciou que pretende vender a pintura, mas disse a uma rede de televisão que apesar do benefício financeiro ser fantástico, não é essa a razão que o motiva. A despeito de suas nobres motivações, o que começou em um de leilão deve terminar em um leilão. E só uma coisa é certa: Six vai sair dessa história alguns milhões mais
rico.
O marchand Jan Six, rindo à toa com sua descoberta. François Lenoir, Reuters
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