Van Gogh e o Japão


Van Gogh nunca esteve no Japão, mas via o Japão por toda parte. Escreveu a seu irmão Theo, em 1888, que “a arte japonesa nos faz voltar à natureza, a despeito de nossa educação e de nosso trabalho em um mundo de convenção” . Essa ideia está diretamente ligada aos princípios de parte da arte produzida do século XIX, que rejeitava a tradição em prol de um contato direto com natureza. Citando a famosa frase de Zola, tão cara a van Gogh, “a arte é um canto da natureza filtrada pelo temperamento”.


Amendoeira em Flor, óleo sobre tela, 1890, Museu Van Gogh



A inspiração japonesa aparece explícita em trabalhos como "Amendoeira em Flor", dedicada a seu sobrinho recém-nascido, ou em versões diretas de obras japonesas (como na figura abaixo). Mas também é possível encontrar ecos menos claros do japonismo em trabalhos como “O Escolar”, retrato que van Gogh pintou de um dos filhos do carteiro em Arles. Nele, vemos a utilização de contornos espessos e de áreas planas de cores: um uso particular do estilo Cloisonista, inventado por Anquetin e Gauguin, que defendia uma aproximação com as gravuras japonesas.

 Esquerda: Hiroshige, Ameixas em Flor, xilogravura, 1857
Direita: Van Gogh, Ameixas em Flor após Hiroshige, óleo sobre tela, 1888, Museu Van Gogh


 Troncos sobre a grama, 1890, óleo sobre tela, Museu Kröller-Müller 


Em outras obras, como em "Troncos sobre a grama", é possível ver a utilização de um procedimento de criação do espaço tipicamente japonês, com o contraste entre um elemento em primeiro plano articulado diagonalmente com elementos ao fundo. O procedimento é uma marca do estilo Ukyo-e, praticado por artistas japoneses como Hokusai e Hiroshige.

A aproximação entre van Gogh e o Japão é tema de uma exposição iniciada em 23 de março no Museu Van Gogh, em Amsterdã. O quadro “O Escolar”, do acervo do MASP, está presente.



      O Escolar (Retrato de Camille Roulin), 1888, óleo sobre tela, MASP


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