Osho e as seduções da alma


Wild Wild Country, de Chapman Way e Maclain Way, 2018.



Wild Wild Country é a aguardada série produzida pelo Netflix sobre uma das histórias mais fascinantes e desconhecidas da história dos Estados Unidos. Pra saber mais, cheque aqui.

Dividido em 6 partes de uma hora cada, ela nos conta a história de Bhagwan Shree Rajneesh (que anos depois ficaria mundialmente conhecido como Osho), um guru indiano que decide criar do zero uma cidade (!) nos confins do deserto do Oregon, nos Estados Unidos. A utopia, batizada de Rajneeshpuram, ganha forma no começo dos anos 1980 e começa a atrair cada vez mais seguidores. Os conflitos começam quando os conservadores 40 moradores da cidadezinha vizinha, Antelope, passam a tolerar cada vez menos seus novos vizinhos.

Embora Bhagwan seja o guru e evidentemente o foco da história, é pela voz de sua secretária pessoal e braço direito, Ma Anand Sheela que a narrativa vai sendo construída. Grande acerto dos diretores. Osho morreu em 1990, aos 58 anos, portanto é óbvio que não pode dar sua versão dos fatos. Mas a indiana Sheela é de uma força, carisma e complexidade tão formidáveis, que fica compreensível um pouco da fascinação exercida sobre seus seguidores.



Bhagwan era a o espírito e a fachada. Sheela era o gênio propulsor. Juntos eles podiam dominar o mundo.

Além das petrificantes entrevistas com Sheela, há também longos depoimentos de outros fiéis de alto escalão, promotores de justiça e moradores da cidade de Antelope. Com uma sobriedade calculada, os irmãos Way compõem um painel profundo e hipnotizante de uma história quase inacreditável. Uma história que embaralha conceitos de bem e mal, com diversas camadas de leituras possíveis, com personagens antagônicos que disputam nossa simpatia e nossa repulsa (as vezes simultaneamente). 

Com trilha sonora matadora e clima tenso, é desses filmes que provocam forte reflexão, então não esperem respostas satisfatórias. Ao término das 6 horas, uma coisa é certa: este documentário bizarro e trágico está ao lado de gigantes do gênero, como O Ato de Matar, de Joshua Oppenheimer, e OJ Made In América, de Ezra Edelman.



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