Os mortos cavalgam muito rápido.

Há uma história ainda a ser contada, a história do terror nos tempos recentes. Ela começaria nos romances góticos e nas baladas sobrenaturais, na literatura anglo-saxônica e alemã desde o século 18. Chegaria até hoje, graças à literatura fantástica e o cinema. Há estudos pontuais, mas seria preciso uma grande obra de fôlego, sintética. Esses pesadelos permanecem por dois séculos, e fazem parte inevitável de nossas intuições daquilo que pode ser o mal.
Fussli teve o gênio de pôr em imagens muito cedo esses terrores. A composição de sua tela "Velha bruxa (old hag) visitando as feiticeiras da Lapônia" (1796 - Metropolitan Museum) é apavorante: as mãos de alguém que sobe uma escada com um punhal luminoso, cor de gelo, logo no primeiro plano; a vítima, um bebê nu, deitado, que monstruosa mulher segura, e todo o fundo fantasmagórico.


Siga a bruxa  da noite,  quando, chamada
Em segredo, cavalgando através dos ares,  chega,
Lasciva com o cheiro de sangue infantil, para dançar
Com feiticeiras da Lapônia,  enquanto a lua diligente
Se eclipsa diante de seus  malefícios
Milton, O paraíso perdido, Livro II

Lenora foi um poema muito popular entre os românticos. Escrito pelo alemão Bürger, conta a lenda de uma noiva que não vendo seu amado Wilhelm voltar da guerra, blasfema contra Deus. Mas eis que, à noite Wilhelm chega e quer levá-la consigo, prometendo um leito nupcial antes da aurora. A cavalgada é enlouquecida, e o poeta diz: ". Os mortos cavalgam muito rápido". De manhã, chegam a um cemitério. O cavalo desaparece, o cavaleiro se decompõe num esqueleto que conduz Lenore para o túmulo. Final que o cinema retomou sem cansar: o fantasma, ou vampiro, apodrecendo em um átimo.
Em 1839, Horace Vernet pintou a tela muito cinematográfica: "Lenora: o cemitério" (Museu de Nantes). A jovem se apavora ao levantar o elmo de seu cavaleiro.




O conde Auguste de Forbin, ao pintar A confissão do bandido (Museu de Quimper, 1800, circa) fez obra cinematograficamente aterradora, embora não sobrenatural. A mulher, ouvindo as abomináveis revelações do assassino, sai da gruta. A figura em contraluz concentra o efeito e elimina o caráter narrativo.


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