O
diabo é lindo. Mais precisamente tem 1,91m de altura, pesa 80kg e fala com
sotaque britânico. Ou pelo menos é como o diabo é caracterizado pela série
Lúcifer, disponível no Netflix (acho que originalmente de algum canal por
assinatura). Pessoas lindas, aliás, não faltam na série. A detetive que faz par
romântico com o diabo é também linda, o irmão mais velho do tinhoso também é lindo, e sua mãe – sim, o diabo tem mãe! – é uma das mulheres de
meia-idade mais lindas que poderiam ter encontrado para o papel. Ela não é velha o
bastante para ser a mãe de Lúcifer e de seu irmão anjo. Mas quem se importa? Seres celestiais envelhecem aos milênios e podem escolher o corpo do
mortal que quiserem.
Lúcifer (interpretado por Tom Ellis)
A
figura de Lúcifer foi parcialmente inspirada nos quadrinhos da série Sandman, de
Neil Gaiman. No mais, a história é simples: o diabo cansou do inferno e abriu
uma boate em Los Angeles, onde todos bebem o dia inteiro e querem transar com
ele. Por obra do acaso (ou de Deus) conhece a detetive Decker e com ela passa a
resolver crimes. Uma série romântico-policial com pitadas angelicais e divertidas
barbeiragens teológicas.
A
ausência de Cristo e a caracterização excessivamente humana dos seres
celestiais - que além de encherem a cara, também se apaixonam e vão à terapia -
faz pensar nos deuses do mundo antigo. Eles se envolviam com mortais,
gozavam a vida, se metiam em guerras e eram caprichosos ao extremo. A relação
da mãe de Lúcifer - uma deusa sem nome - com Deus remete à relação entre Hera e
Zeus. O inferno não é um
lugar quente com labaredas e tormentos, mas um território gélido cercado por grandes
portões, onde a neve cai constantemente. Qualquer semelhança com a mansão de
Hades não é casual.
O diabo, seu irmão e sua mãe
Não
sei como um cristão rigoroso reagiria às caracterizações dos personagens. Eu,
historiador da arte-economista-ateu, acho um deleite. Especialmente com pipoca
e coca-cola. A começar pelo herói, o adorável-apolíneo diabo. E pelo antagonista: Deus-todo-poderoso,
um ser egocêntrico, vingativo e muito pouco generoso. Ele não tem forma humana,
nem aparece em nenhum momento da série (pelo menos até a temporada 2), mas
sabemos que todas as mazelas dos personagens vêm de seu lado caprichoso,
demasiadamente humano. Nada mais apropriado para quem nos criou a sua imagem e
semelhança.
Lúcifer e a detetive Decker
Gostei da resenha.
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