O dom transfigurado

Joaquín Sorolla (1863-1923) foi abençoado por uma facilidade sem limites, por um domínio completo do pincel que não lhe sabe resistir. É certo que esse sentimento de destreza provocou, nas gerações que lhe sucederam, uma reação de desdém e o ostracismo. Pareciam "fáceis". 


Joaquín Sorolla - Mãe- 1895-1900. Museu Sorolla Madrid.


Mas não é preciso atentar muito para percebê-lo resistente ao que Focillon denominava "o despotismo do dom".



Joaquín Sorolla - Barcos valencianos - 1908 - Museu San Telmo - San Sebastián - Espanha



Sorolla possui uma virtuosidade semelhante à de pintores do século 18, como Fragonard, capazes de unir, numa pincelada que permanece visível, a representação, a memória do gesto, a cor, a matéria, o movimento, a luz. No seu caso, porém, a luz tem primazia. Ela constitui e agrega. 




Joaquín Sorolla - Passeio a beira mar - 1909 - Museu Sorolla - Mardri


Sorolla diverge dos impressionistas, criadores de um visível que se dissolve envolto na atmosfera translúcida. Seu mundo é feito de uma luz interna às coisas. Nele, um pequeno bago de uva existe por meio de secreta força luminosa e interior, como o tecido branco atravessado pelo sol se torna "feito" de luz. Por isso mesmo, sua pintura vai além do hispanismo circunstancial e da agilidade habilidosa, para atingir uma essência pictórica muito densa e mesmo grave, emergindo, o mais das vezes, por entre felicidades e prazeres.



Joaquín Sorolla -  Transportando  uva. . Museu de Asturias, Oviedo, Espanha.



 Sorolla é um formidável pintor. Seus quadros oferecem-se ao olhar sem perturbações nem dificuldades, impregnados de sedução luminosa.






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