O mundo do mistério, o mundo do showbiz


Dois lançamentos de séries aguardados como tesouros aparecem disponíveis. Em primeiro lugar, a vida do casal Bob Fosse e Gwen Verdon, em Fosse/Verdon, lançado pela FX. A série procura estabelecer nuances do showbiz que merecem ser postos em liça. Depois, a retomada de Twilight Zone, pela CBS e apresentado desta vez por Jordan Peele, aclamado diretor por Get Out (2017) e agora por US (2019).





1.
Rod Serling fez longa história com a criação da famosa série Twilight Zone, exibida entre 1959 e 1964. A qualidade inegável não apenas do roteiro dos episódios, mas de atores, produção etc eleva a série para um estatuto de obra-prima, igualando-a a produções de alto calibre da história do cinema. A exibição dos mistérios, medos e do inexplicável rondaram a imaginação dos telespectadores conduzidos pela música de Bernard Hermann, lendário compositor de Citizen Kane, The Day the Earth Stood Still e dos inúmeros trabalhos para os filmes de Hitchcock. 






A abertura do primeiro episódio demonstra os caminhos por onde as histórias se articulam, na voz de seu criador e tão logo o apresentador da série, Rod Serling:

“There is a fifth dimension, beyond that which is known to man. It is a dimension as vast as space and as timeless as infinity. It is the middle ground between light and shadow, between science and superstition, and it lies between the pit of man's fears and the summit of his knowledge. This is the dimension of imagination. It is an area which we call The Twilight Zone”.

O sucesso rendeu verdadeira linhagem. Séries e filmes tiveram vida por conta do modelo de Twilight Zone.  Tales from the Dark Side, Night Gallery, Tales from the Crypt e mesmo O planeta dos macacos, cujo roteiro também é assinado por Serling. E a própria ideia foi retomada diversas vezes: Twilight Zone (1985-1989); Twilight Zone (2001-2003); Twilight Zone: The movie, 1983, com segmentos dirigidos por John Landis, Joe Dante, George Miller e Steven Spielberg.



Neste ano, a série é novamente encarnada. Nova roupagem e novo apresentador. A abertura escolhida é aquela da tradição impregnada desde a temporada 04 da série original. Por certo a voz de Jordan Peele, forte e com presença bem marcada, se mostra acuada e tímida na abertura e mesmo na apresentação do primeiro episódio. O que se modifica nos posteriores. Se, por um lado, o roteiro neste início de temporada se mantém com a qualidade e o tamanho que a franquia pede, os capítulos são irregulares. O terceiro, intitulado ‘Replay’, é consonante com os temas atuais, dos medos e traumas explorados por nossa cultura, como faziam as antigas temporadas ao inserirem elementos como a bomba atômica, o medo da ciência desenfreada, os perigos do espaço etc.

 


 


Seja como for, é algo para ser acompanhado com fervor, na expectativa que se mantenha a qualidade que a série promete.


2.
De menor impacto popular é Fosse/Verdon. A série se passa no entremeio particular da vida do famoso coreógrafo e diretor Bob Fosse e da dançarina e atriz, Gwen Verdon, esposa do artista. Em consonância às preocupações de nosso momento atual, a série procura não apenas dar voz a Verdon, como manter sua importância no relacionamento e na carreira de Fosse. Ela é interpretada por Michelle Williams e ele por Sam Rockwell. São pouco convincentes em seus papeis e, por vezes, tão caricatos que desestimulam o espectador a prosseguir na história: o jeito sonso e frio com o qual os personagens foram montados não colabora com os atores. 



Mas o foco visual da série é o filme All that Jazz, 1979, obra-prima inconteste (veja o texto no blog). Os ensaios, o backstage, tudo é formado ao gosto visual do filme de Fosse, sem ter, contudo, a sua energia peculiar. A série se apresenta também na esteira rigorosa da edição, como compreendida por Fosse. E aqui tropeça e se perde. Os cortes temporais deixam fios soltos, o raciocínio quase nunca é completado e tudo é dito de modo extremamente superficial. Se o paralelo - em especial da atuação ou compreensão do casal - fosse feito a partir do filme, The Wife, de 2018, Fosse/Verdon se mostraria ainda mais frágil.  Björn Runge soube calibrar os caminhos temporais em seu filme bergmaninano amparado por atuações seguras. 





É possível com alguma esperança aguardar algo de novo e verdadeiramente forte para Fosse/Verdon, mas, por enquanto, é uma promessa que ainda não viu o dia florescer.

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