Sobre filmes e séries: discordando de William Pereira

Aqui, Will, eu discordo. Quando eu era moleque, seguia nas matinês do cine Yara, em Águas de Lindóia, os seriados - na maioria produzidos pela RKO. Eram filmes ingênuos, toscos, mas cheios de encanto. Sobretudo, eram filmes. Quer dizer, eram concebidos, planejados, dirigidos e montados como cinema. (Revi The Purple Monster Strikes, título brasileiro, Marte invade a terra, dos tempos dos meus 8 anos, e me deliciei. Apesar do título, era em preto e branco, como todos os outros). A grande produtora desses seriados era a RKO.


Terminei ontem de ver a saga completa e restaurada Musashi, de Tomu Ushida, que data dos anos de 1960. Uma sublime obra-prima, composta por seis filmes. Ushida rodava um por ano. Cinema de gênio absoluto.




As primeiras séries na TV, e mesmo os sitcoms, tinham que ser filmados, pois não havia videotape. Eram empregados os mesmos princípios de produção, direção e montagem. E alguns resultaram em mais obras-primas, como Twilight Zone. Eram cinema para a televisão.




Se eu assisto O encouraçado Potemkim na televisão, ele não deixa de ser cinema.




Não importa que o filme seja  produzido para TV. Ele continua sendo cinema. Um dos grandes filmes jamais realizados é A tomada do poder por Luís 14, de Rossellini. Feito para a televisão. Um exemplo, apenas, entre tantos.




As séries às quais você se refere, são mostradas em temporadas, porque precisam de tempo para serem realizadas e elaboradas.




O oposto das séries são as telenovelas. Telenovelas não são cinema, porque concebidas e regidas por um sistema de produção e fabricação muito diferentes.

Há um ponto, porém, que permitiu à TV estimular a produção cinematográfica: a reintrodução de um enredo contado em capítulos. Estimulou o desenvolvimento e aprofundamento das situações, das análises e dos personagens. Isso também ocorreu no século XIX, no domínio da literatura, com a publicação dos folhetins nos jornais. Alguns, que tiveram muito sucesso mas terminaram por desaparecer da história literária. Outros, porém, muitos e muitos, transformaram-se em obras altíssimas. Alguém diria que "Os demônios", de Dostoiévski, ou "Guerra e Paz", de Tolstoi, publicados como folhetim, é jornalismo?

Cinema continua sendo cinema, e tv continua sendo tv.
Uma vez, ouvi Aracy Amaral dizer: "Se televisão fosse arte, a gente já saberia". Cinema é arte. Televisão é um eletrodoméstico. Fellini quem diz.



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