O olhar da lente

Olhar como se os olhos se fundissem com a lente. 


As fotografias de Judy Linn, as melhores fotografias de Judy Linn estão para além do instante captado, aquele mesmo que ensinava Cartier-Bresson, e dissolvem o punctum de Barthes. Não é só o instante, é o instante e todo seu entorno. Não é o punctum, porque tudo se relaciona na junção do visível e do invisível. Que não é possível nem detectar, nem nomear.

Judt Linn - Beijo - 2000

A matéria primeira é a insignificância do quotidiano. Nada de exotismos. Suas fotos trazem a metafísica da banalidade. Oferecem-nos a experiência que os filósofos chamam "do espanto". De como viver é estranho.

Judy Linn - Autoestrada - começo do inverno de 2009


A aparição fantomática de um carro e um caminhão numa autoestrada. A convergência perspectiva dissolvida na luz e na bruma. 


Judy Linn - Dandur - 2001


Em Dandur, solene e nobre eternidade do granito numa escultura milenar, junto à trivialidade do plástico eterno. O balde e o faraó pousados sobre linhas estritas, em que apenas o vulgar tem cor, iluminado em modo transcendente. O que significa, agora, para nós, cultura do passado?


Judy Linn - Elisabeth st. - anos de 1970


Grande obra-prima, Elisabeth st.  A perfeita simetria dos carros. O traçado geométrico rigoroso, sublinhado por uma faixa amarela. Um corpo encolhido, deslocado, deitado em direção de uma grocery, loja de alimentos, que perdeu seu o. Muito mais do que denúncia social, é a constatação da condição humana em que vivem nossas sociedades.

Comentários

  1. A inteligência dos olhos. Obrigado, Jorge, por nos ajudar a racionar pelos olhos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário