Admirável Sergio Moro
















Sergio Moro fala sem vibração, pondo silêncios entre as palavras, sofrendo com dificuldades de português. Tem um jeito de criança tristinha. Por isso mesmo, parece inócuo.

Mas que rasteiras! Ele foi definitivo para as eleições passadas. Prendeu Lula, vazou áudios, e acabou o incriminando por "íntima convicção", porque lhe faltavam provas jurídicas. Foi um evidente julgamento político, que nada tinha a ver com a corrupção que podia estar presente no Partido dos Trabalhadores. Foi, eu não tenho dúvida, mais definitivo do que a facada de Juiz de Fora. como pagamento, recebeu o cargo de ministro.

Agora, sai batendo a porta. Acusa Bolsonaro de intenções malévolas em relação à Polícia Federal. De querer comprometer sua autonomia (coisa que o governo do PT não fez, ele disse), de querer intervir por telefone junto ao Diretor-Geral (imaginem se a Dilma tivesse feito isso, ele perguntou). Deixou, mais do que insinuado, o desejo que Bolsonaro tem de proteger sua família miliciana.

Está claro, assentou seu rumo para a presidência em 2022. Tornou-se, a partir de agora, um fortíssimo candidato.

Bolsonaro, ao contrário, tem eloquência. Mesmo quando fala com a ajuda de um ponto. Eloquência de sargentão, muito própria para convencer o tiozão do pavê e quejandos. Seus argumentos patéticos, que vão do aquecedor para piscina desligado ao seu cartão de crédito, seu raciocínio, que atribui ao ministro da justiça a obrigação de correr atrás da namorada do filho número 4 ou a intervir numa prisão com algemas no nordeste, funcionam para os espíritos mais embrutecidos. Eles passarão até a acreditar que Moro é comunista, pois, disse Bolsonaro, Moro ele é contra as armas e protegeu uma  cientista política favorável ao aborto.

Ergueu uma acusação séria: Moro teria agido por oportunismo, aceitando a troca de Diretores-Gerais depois que fosse nomeado para o Supremo Tribunal Federal. Um golpe baixo: vale o que vale na ferocidade do tiroteio.

As razões que levaram Bolsonaro a exonerar Moro não são para mim muito claras. Ele não pode ser tão jumento a ponto de não perceber que, com isso, enfraquece politicamente a si próprio. Minha hipótese é que pesou dos dois perigos, qual o pior: deixar Moro continuar no cargo e não se enfraquecer, mas com isso ver os crimes cometidos pelos seus serem revelados pela polícia federal; ou exonerá-lo, e evitar que os podres venham à tona. Deve ter pensado que a segunda escolha seria a mais segura

Para nós, do andar de baixo, essa briga entre escorpiões é terrível. Um país que necessita de escolhas pensadas e sólidas para diminuir seus imensos problemas vê, em seu governo, e ainda mais no momento em que atravessa um furacão no campo da saúde e da economia, o desprezo completo por tudo que seria urgente, essencial, prioritário.

Triste também o fato de perceber os partidos de esquerda inertes nestas ocasiões de crise. Parecem não tirar as consequências estratégicas, nem conseguem elaborar lideranças. Como se não fosse com eles. Como se esperassem um Dom Sebastião para 2022.

Enquanto isso, na oposição, várias raposas, algumas delas secretadas pela própria eleição de Bolsonaro, vão se afirmando como líderes possíveis. 

Que perspectiva para o país se nos virmos obrigados, nas próximas eleições para a presidência, a escolher entre Maia, Moro e Doria?


Comentários

  1. Saindo Moro, apesar do risco, ele terá na PF alguém que o protegerá dos crimes familiares... pois é, nossa esquerda não consegue pegar o bonde andando.

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