Certamente, Athos Bulcão é lembrado com justeza no cenário
da história da arte brasileira por também atuar de modo singular em paralelo à
arquitetura. Seus murais, como aqueles de Portinari ou Maluf, são elencados quando
seu nome é mencionado. O trabalho em parceria com Portinari realizado na Igreja
da Pampulha e os inúmeros murais realizado em Brasília a partir dos anos 50 não
deixam qualquer suspeita: um grande artista, inserido em certa ideia de projeto
moderno brasileiro.
![]() |
Relevo em madeira pintada. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Asa Sul, Brasília - DF. 1998. |
Na coleção do museu de Arte Murilo Mendes, em Juiz de Fora, duas
obras de Athos Bulcão são conservadas. Não é segredo, embora não explorada, os
laços de amizade entre Murilo e Athos a partir dos anos de 1940. A moça com sua
cabeleira de folhas e ramos, de 1945, é de traço firme com seus olhos
hipnóticos.
![]() |
Athos Bulcão. S/t. 1945. (Museu de Arte Murilo Mendes, Juiz de Fora-MG) |
Ao mesmo tempo é sabido que “não só”. Bulcão atuava com diversas
técnicas. Algumas menos e outras mais potentes. Alguns trabalhos aparecem menos
em relação a um artista reconhecidamente por sua relação com a arquitetura. E
nisso a exposição 100 anos de Athos Bulcão, no Centro Cultural Banco do Brasil
em Belo Horizonte-MG, é importante. Não se trata de apresentar as fotomontagens
ou as telas do artista. A ideia é de fato uma retrospectiva em uma mostra
cronológica. As fotomontagens estão presentes, obviamente, em conjunto com
telas, painéis de azulejos, croquis para figurinos, os paramentos litúrgicos
etc.
![]() |
Figurino da peça Tio Vânia, de Anton Tchekhov. 1955. |
Alguns pontos merecem ser destacados na exposição. Em
primeiro lugar, o interesse diverso no qual as salas foram dispostas. É possível que isto seja algo evidente,
realizado a partir das obras disponíveis e de suas energias para compor o
espaço. Mas, algumas salas parecem menos potentes. É o caso, por exemplo, dos
primeiros trabalhos, capas de livros e design. São peças fundamentais e poderiam
ter sido expostas de modo a dar o relevo que elas merecem. A solução
em forma de mostruário com poucos elementos sugere uma olhadela corroborada
pelos reflexos luminosos das janelas. Outro ponto é o louvável esforço em inserir
o conjunto de Bulcão pensada em relação com outros artistas. Mas naquele
espaço carece de informações mais precisas, o visitante pode facilmente se
deixar levar pela confusão autoral, trata-se de Bulcão, apenas outros artistas
ou ambos? Enfim, pequeninas remarcas que não prejudicam a exposição ou o seu caráter
abrangente.
![]() |
Sem título. Acrílica sobre tela 1992. |
As salas destinadas aos projetos são admiráveis. A relação direta
com o espaço arquitetônico, o rigor do desenho, a escolha minuciosa das cores,
tudo em sintonia. Estes projetos sempre acompanhados de painéis com os azulejos e
sua solução no espaço proposto apresentado por fotografias.
Um pequeno vídeo da sala, embora de qualidade questionável, é possível ter certa noção do espaço e das relações propostas.
É importante também salientar a força do material produzido
por Athos Bulcão. Aqueles elementos decorativos, por vezes orgânicos e fluidos
outras racionais e geométricos funcionam em grande escala, no muro da igreja ou
do mercado. E, em tamanho diminuto, como telas na exposição e não perdem em nada
a atração e interesse, permanecem poderosos.
![]() | ||
Estudo para painel em azulejos do Sambódromo, Rio de Janeiro - RJ. módulos serigrafados sobre papel cartão. 1983. |
São sentidos diferentes entre o gigantismo
do muro em uma obra pública e o espaço expositivo, denotam de algum modo a forte
presença daquelas formas.
Comentários
Postar um comentário