É sempre alvo de discussão. E para quem trabalha como
professor de História da Arte, deve ter ouvido de seus alunos ou de amigos e
parentes duas perguntas constantes: 1) Você gosta do Romero Britto ? O que você
acha dele? 2) Você gosta do Botero ? Por
que ele sempre faz gordinhos ?
Não é por menos, são artistas superstars. Não apenas valem
milhões, são midiáticos e consumidos de modo bem disseminado na cultura. Não há
problema neste aspecto.
O colombiano de Medellín, Fernando Botero, é reconhecido e
ao mesmo tempo questionado. Suas obras tendem a se repetir irritantemente, o
estratagema aplicado é o mesmo: as formas arredondadas e inchadas na descrição
de suas figuras, naturezas-mortas ou paisagens. O personagem masculino com
um bigode-cafajeste ralo, chapéu-coco etc. Suas mulheres-cera e sem sangue.
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Fernando Botero. Pareja bailando. 1987. |
O mesmo princípio, tela após tela; escultura
após escultura, o “Boterismo”. Em um museu repleto de Boteros, o olhar logo se
cansa, enjoa. Evidente que existe interesse em suas obras.
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Fernando Botero. Cabeza de Cristo. 1976. |
É possível concordar ou não, enumerar diversos outros
aspectos. Mas há um detalhe que é inatacável: Fernando Botero doou mais de 300
obras para museus em Bogotá e Medellín. As instituições nestas cidades seriam
bem diferentes sem a presença marcante do artista. Bom, esse fato também
poderia ser encarado como uma estratégia de valorização de sua obra. Em 1998 e
2000 foram as maiores doações. No primeiro, de uma só vez, 203 obras e dois
anos depois 114. A pergunta que fica: O que acontece no mercado de obras de
Botero quando se tem mais de 300 obras fora da parada? É o questionamento de Lucas
Ospina (http://lasillavacia.com/elblogueo/lospina/32463/donacion-y-autodonacion-botero).
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Uma das salas Botero no Museo de Antioquia. |
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Sala no Museo de Antioquia |
Mas não foi apenas isto. O artista doou para o Museo de Antioquia (Medellín), para o Museo Botero e para o Museo Nacional (Bogotá) peças fundamentais de sua coleção
privada, de outros artistas, todos com seu lugar garantido na história da arte.
Trata-se de Picasso, Miró, Giacometti, Delvaux, Soutine, Ernst, Boudin, Toulouse-Lautrec, para mencionar apenas uma pequenina parcela de um universo
muito importante. Este ato seria o suficiente para apreciar a figura de Botero.
São muitos os artistas que vendem suas obras por milhões, interessante é quando
esses milhões se transformam em uma coleção de arte e muito notório é quando
esta coleção se torna pública.
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Frank Stella. Doble desmodulador gris. 1968. |
As cidades agradecem, o turismo também. Onde seria possível
ver trabalhos de Max Ernst, Antoni Tapiès, Alex Katz, Pierre Bonnard, Francis
Bacon, Robert Rauschenberg, Richard Estes, Albert Marquet num mesmo lugar, na
Colômbia ?
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Alex Katz. Portrait of Maxime. 1980. |
A doação também descortina outro aspecto. A coleção formada
por Botero é muito expressiva, pelos artistas que nela fazem parte,
mas especialmente pelas obras escolhidas destes artistas. O Botero-colecionador
é implacável, a precisão na escolha impressiona. Não são meras peças compradas
com velocidades ou ao acaso, denotam antes um olhar apurado, são obras de
qualidades excepcionais e seriam parte do acervo de qualquer museu respeitável do
mundo.
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Pierre Bonnard. Nu com cadeira. 1935-38. |
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Gustave Caillebotte. A planície de Gennevilliers. 1884. |
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Uma das salas do Museo Botero, com mestres europeus. |
...
No museo de Antioquia três ou quatro salas são dedicadas ao
artista. Mas fortuitamente dispuseram obras de Botero juntamente com outras de
outros artistas, colombianos ou não, do mesmo período. Assim, vista em conjunto
em um substrato maior e mais significativo, as telas e esculturas de Botero
tendem a ter novos sentidos e novas forças.
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