Amores brasileiros



Essa semana estreou nos cinemas o filme ALGUMA COISA ASSIM, dirigido por Esmir Filho e Mariana Bastos. Uma história de amor entre dois jovens, Caio e Mari, em 3 tempos: começando em 2007, auge da adolescência e descoberta do mundo; pulando para 2013 onde um evento importante na vida de Caio reúne os dois novamente; e por fim 2017, em Berlim, onde a vida adulta se impõe de maneira implacável.



Há muitas cores e sons inundando a tela, sobretudo no primeiro terço da história. Sinestésico, o filme nos embriaga os sentidos, no rolezinho dos dois adolescentes pelas baladas paulistanas. Mari é arrojada e cheia de atitude, um personagem feito com inspiração pela ótima Caroline Abras (que fez uma polícial federal na série do Padilha, O Mecanismo, e também esteve em um dos melhores filmes do ano passado, Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa), enquanto Caio é introvertido e inseguro, um personagem bem menos interessante, interpretado pelo desconhecido André Antunes. O roteiro às vezes causa irritação, já que boa parte do interesse parece ser retratar momentos e conversas absolutamente banais entre os dois amigos. É sobretudo no segmento de Berlim onde encontraremos os diálogos mais interessantes - incluindo uma briga memorável que me deixou muito impactado.

Em resumo: trata-se de um filme desigual, cheio arestas, imperfeito, e é exatamente aí que reside sua maior qualidade. Altamente pessoal e fortemente autoral, transborda sensibilidade e honestidade, fazendo da jornada dos dois jovens uma experiência cheia de beleza, tristeza, dor e alegrias. Belíssimo filme, espero que encontre seu público - já que os multiplex parecem encher suas salas somente com as indigências cometidas por Leando Hassum e companhia, o que deixa a impressão de que não existe cinema brasileiro. Sim, ele existe, mas por algum motivo os filmes parecem não circular. Simplesmente não são vistos.

Sobre os diretores, os dois jovens, já trabalharam juntos no curta TAPA NA PANTERA, uma espécie de clássico do youtube, onde a uma senhores discorre sobre sua relação com a maconha.


Os dois trabalharam também num programa da TV Cultura sobre literatura brasileira e portuguesa, um programa muito querido feito para adolescentes do ensino médio. TUDO O QUE É SÓLIDO PODE DERRETER tem 13 episódios, e estão na íntegra no youtube. A seguir vai o primeiro deles.


Dos dois diretores, Esmir Filho é o único a ostentar um longa já lançado. Em 2009 estreou seu OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, um título estranho e curioso que conta a história de um garoto de 16 anos, numa cidadezinha do sul do país, que passa os dias na internet e fumando maconha, e que sonha em ver um show do Bob Dylan. Estréia impressionante, um filme sóbrio, melancólico e bonito pra chuchu. Pouquíssimo visto, infelizmente. 


Fica então a dica. Ou as dicas, né. 

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