Dores invisíveis

Quem sente o sofrimento do outro? A pergunta paira em Dor invisível, curta metragem sobre o espinhoso tema do suicídio de universitários.


Feito por alunos de diferentes cursos da Universidade Federal de Uberlândia – artes visuais, teatro, letras e ciências sociais –, Dor invisível é um petardo desnorteante e artisticamente certeiro. São tantos os prós do filme que os contras se diluem, pouco expressivos, ante a força do conjunto.


Dor invisível é arrebatador na simplicidade, envolvente na trama e surpreendente na conclusão. Não oferece explicação ao problema de que trata e esse é um de seus méritos. É um exercício cinematográfico muito mais do que uma investigação aos meandros acadêmico-sociais e psicológicos do flagelo.


Ninguém, nem a universidade, embora ela seja o cenário principal do filme, é pintado como vilão. O ambiente íntimo dos estudantes tem importância equivalente ou ainda maior. As rusgas e desabafos, as repúblicas nas manhãs tranquilas e nas festas agitadas, tudo se integra em espécie de coro de dissonâncias que sobreleva as aparências aos sentimentos ocultados.


A banalidade do cotidiano e a poesia ali contida são habilmente exploradas. Não constituem causa nem muito menos antídoto às enfermidades da alma. As coisas e os gestos não vão para além daquilo que são.


Um dos pontos altos é o encontro de Luiz, personagem encarnada brilhantemente por Cleiton Custódio, e Vaine, rapper fantástico que interpreta a si mesmo. A canção que os dois entoam é de cortar o coração.

Dor invisível derrapa um pouco em diálogos e situações (por exemplo, no atrito entre o aluno e o professor), assim como no som (em transições bruscas nos volumes e uma fala de Vaine incompreensível), mas nada que o macule como trabalho experimental de altíssimo nível, concebido por uma equipe de talentos jovens e promissores. Que mais produções da Mexido Filmes venham mexer conosco.

Assista ao trailer de Dor invisível


Post Scriptum em 31/10/2018. Os realizadores disponibilizaram o curta na Internet, acesse aqui.

SINOPSE
Cristina (Rubia Bernarsci). 25 anos. Estudante de biologia. Está fora de casa há mais de 5 anos. Luiz (Cleiton Custódio). 30 anos. Artista. Quer dizer o que sente através de suas pinturas. Daniel (Thiago Augusto). 27 anos. Formou-se recentemente no curso de Letras. Agora é professor na rede pública. Três amigos. Moram juntos há mais de 3 anos. São o apoio que às vezes não encontram nem em suas famílias. Mas, talvez por descuido ou distração, grandes coisas nos passam despercebidas. Algo que mudou a vida dos três aconteceu. Ninguém viu. Ninguém vê. Ninguém nunca sabe. Quem sente sua dor?

DOR INVISÍVEL
Ano: 2018
Gênero: Drama
Duração aprox.: 30 min.
Diretor e fotografia: Lucas Orsini
Roteiro: Rosy Ribeiro
Direção de Arte: Débora Borba
Montagem: Keynni Junior
Atores Coadjuvantes: Vitor Rodrigues, Barbara Morais de Figueiredo e estudantes da Universidade Federal de Uberlândia
Participação Especial: Vaine
Iluminação: Renan Fagundes
Foto divulgação: Thiago Paulino
Making of: Emílio Piruá
Som direto: Alexandre Melo
Trilha sonora: Cinema Invisível, Vaine, Pedro Nery, Lucas Orsini

REALIZAÇÃO
Mexido Filmes

APOIO
PROEXC-DICULT, PROAE, UFU (Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Diretoria de Cultura, Pró-Reitoria de Atendimento Estudantil, Universidade Federal de Uberlândia)

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