Só o sangue conta na vida dos povos

DOSSIÊ FILMES SOBRE DITADURA BRASILEIRA. VII - BLABLABLÁ, DE ANDREA TONACCI, 1968.



Um ditador faz um longo pronunciamento pela televisão num momento de grave crise institucional no país. Um cidadão comum discute com um outro sobre a situação política do momento. Um casal de guerrilheiros conversa a beira de um rio. A partir desses personagens, com suas dúvidas e tensões, Andrea Tonacci tece um comentário sarcástico e corrosivo sobre a realidade do brasileiro sob o governo militarista.

Blábláblá é o segundo curta metragem do diretor nascido em Roma, mas que viveu a vida toda em São Paulo. Falecido em 2016, ostenta alguns dos melhores e mais inventivos títulos da filmografia nacional, como Bang Bang e Serras da Desordem. Com este curta, Tonacci foi fiel à sua época e aos seus cidadãos. Extremamente político, não propõe caminhos nem soluções: causa incômodos e levanta questionamentos. A seguir, o link do filme no youtube:



Paulo Gracindo é o político que ocupa praticamente os 26 minutos do filme, num discurso inflamado e confessional para a tevê. Trata-se de um ditador que promete endurecer a repressão (o que é um prenúncio do AI-5, que ocorreria meses depois), e que tenta justificar e legitimar seu governo. Para além do que é dito, importa mais a atuação de Gracindo, cheia de arroubos de fervor e pausas profundas, desesperança profunda e explosões de cólera. 

Claro que o filme não se resume a esse discurso fascista: é através da montagem, com imagens de arquivo, que o filme faz seus comentários mordazes e críticos sobre aquilo que está sendo dito. 


Os trechos com os dois revolucionários são curtos: a garota tem uma fala mais poética e romântica sobre a revolução.

Mas os dois trechos mais interessantes: Nelson Xavier discutindo com um personagem em extracampo, questionando a passividade do cidadão comum, fazendo a defesa da luta armada; e a cena de três sujeitos aparentando ser de um esquadrão da morte, que levam outros dois num jipe e o executam num lugar deserto. 


Execução feita por membro de esquadrão da morte, comuns no período

Nelson Xavier e a acalorada discussão.

Cheio de experimentalismo e metalinguagem, este é uma ficção que tem muito a dizer sobre o Brasil dos anos de 1960 (e muito, muito sobre o Brasil de 2019)

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