Livros para a quarentena
Hanna Arendt - O sistema totalitário
Seleção de trechos
Nada caracteriza melhor os movimentos totalitários em geral, e a glória dos seus chefes em particular, do que a rapidez surpreendente com a qual eles são esquecidos e a facilidade surpreendente pela qual eles são substituídos.
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Uma ditadura do partido único acrescentava apenas uma classe a mais na estratificação do país, que já progredia - essa classe sendo a burocracia que, segundo os críticos socialistas da revolução "possuía o estado como sua propriedade privada" (Marx).
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O sistema stakhanovista, adotado no início dos anos 30, quebrou toda solidariedade e toda consciência de classe entre os operários, primeiro por sua competitividade feroz, segundo porque solidificou provisoriamente uma aristocracia stakhanovista, cuja distância social em relação ao operário comum era sentida de maneira muito mais aguda do que entre os operários e a direção. NOTA MINHA: para quem não conhece - O homem de mármore, de Andrzej Wajda.
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Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos atomizados e isolados.
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Com seu arbitrário constante e assassino, a guerra tornou-se o símbolo da morte, a "grande igualizadora".
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O que era tão sedutor, é que o terrorismo se tornara uma espécie de filosofia exprimindo a frustração, ressentimento, o ódio cego, uma espécie de expressionismo político que tinha as bombas como linguagem, que observava com delícias a publicidade dada às suas façanhas e que estava pronto para pagar com sua vida para que a sociedade normal reconhecesse sua existência.
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| Gaudí - Sagrada Familia |
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A propaganda comunista ameaça as pessoas de perder o trem da história, de ficarem desesperadamente atrasadas em sua própria época, e de passarem uma vida inútil, da mesma maneira que os nazistas as ameaçavam de viver em desacordo com as leis eternas da natureza e da vida, deteriorando o próprio sangue de irreparável e misteriosa maneira.
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O cientismo da propaganda totalitária se caracteriza pelo acento que põe quase exclusivamente na profecia, em oposição à referência tradicional ao passado.
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A fuga das massas diante da realidade é uma condenação do mundo na qual elas são forçadas a viver e não podem subsistir, porque a coincidência tornou-se a lei suprema, e que os seres humanos têm necessidade constantemente de transformar as condições caóticas e acidentais num esquema de relativa coerência.
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O que distingue os ditadores totalitários é antes a determinação simplista e exclusiva com a qual eles escolhem elementos de ideologias existentes, que são os mais próprios a tornarem-se os fundamentos de um mundo inteiramente fictício. (...) Graças a tais generalizações, a propaganda totalitária estabelece um mundo capaz de fazer concorrência ao mundo real, mundo real cuja grande desvantagem é a de não ser lógico, coerente e organizado.
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Num mundo sempre mutável e incompreensível, as massas haviam atingido um ponto em que elas acreditavam simultaneamente em tudo e em nada, em que pensavam que tudo era possível e nada era verdadeiro.
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A história ensina que o acesso ao poder e à responsabilidade modifica profundamente a natureza dos partidos revolucionários.
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Hitler pôs em circulação milhões de exemplares de seu livro onde declarava que, para ter sucesso, uma mentira deve ser enorme - o que não impediu as pessoas de acreditarem nele.
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Os estados totalitários se esforçam sem cessar - mesmo se nem sempre consigam completamente - de demonstrar que o homem é supérfluo.
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