Você se acha moderninho?

Ordem, nitidez, clareza, geometria. São os instrumentos de um autoritarismo visual tomaram conta da percepção moderna, sobretudo depois da primeira guerra mundial. É nesse autoritarismo que a modernidade fundou sua poesia.

Ralph Steiner

Interruptores Elétricos

1930

A foto de Ralph Steiner, Interruptores elétricos, (1930), concentra as ressonâncias culturais e também as volúpias que oferecem os prazeres de ser moderno. Disjuntores em bolcos paralelos, ordenados, deslocados em inclinações rigorosas, evocando a forma de arranha-céus que se erguiam nos Estados Unidos. Brilhos de metais, arestas nítidas, perfilamento industrial, luz artificial precisa e reveladora dos cheios e dos vazios.

Na fenomenal safra de fotógrafos norte americanos produzida durante a primeira metade do século 20, Ralph Steiner foi uma figura chave, tanto pela invenção original, quanto por certa inflexão sutil de suas imagens. Como tantos de seus contemporâneos, Steiner era fascinado pela geometrização moderna do mundo e no mundo. Pela repetição do idêntico, que enquadra os modos orgânicos da cultura, como as teclas da máquina de escrever enquadram o alfabeto.

Ralph Steiner - Teclas da máquina de escrever - 1921

O recorte nítido também disciplina o corpo, aproximando-o das formas unidas de um manequim.

Ralph Steiner - Nu e manequim , ca. 1935

Steiner, porém, não desumaniza o que fotografa. Ao buscar os processos simplificadores e exatos no interior de uma poética industrial, ele inocula vida e afeto. Mesmo quando se trata de máquinas. Em 1933, realizou uma obra-prima cinematográfica, o curta Mechanical Principles. O título frio de manual engana, porque Steiner faz o milagre, pela beleza como fotografa, pelo ritmo hipnótico das imagens, de nos levar a crer que existe afeto entre as engrenagens. Pistões e rodas dentadas se amam. É um momento crucial de cinema. São 10 minutos do mais puro êxtase visual.