
"Pois eu mostrei que os ricos deste mundo não têm escrúpulos em causar miséria, mas não suportam a vista dela. Eles têm coração duro, mas nervos fracos."
Pabst realizou, em 1931, o filme A ópera de três vinténs, a partir do sucesso que o musical do mesmo nome, escrito por Brecht e composto por Kurt Weill havia obtido desde sua estreia, em 1928. Suas melodias, inspiradas no mundo do cabaré, tornaram-se familiares a todos os ouvidos, até hoje, no mundo inteiro.
O partido nazista baniu o filme em 1933 e destruiu todas as cópias dele. Foi reconstituído a partir de fragmentos de diversos colecionadores e de diversas cinematecas internacionais nos anos de 1960.
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Lotte Lenya em "A ópera de três vintens" de Pabst - Brecht - Weill (1931) |
Muitos dos filmes produzidos na Alemanha antes da ascensão do nazismo banhavam num clima de alusões, metáforas, alegorias políticas ou sociais. Pelo menos dois deles, ambos de 1931, fazem a demonstração de que a ordem institucional é, em sua essência, a mesma da ordem que preside ao submundo, à bandidagem. Não há uma diferença de natureza, mas apenas de nível. Poderosos e criminosos são feitos da mesma matéria, e o mundo é como é porque ambos têm, de modo intrínseco, a mesma identidade e se entendem muito bem.
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Fritz Lang - "M - O vampiro de Dusseldorf" (1931) |
Em M, de Fritz Lang o assassino é um outsider que não se encaixa nem em um nível, nem em outro. Por isso é vítima tanto dos bandidos quanto da polícia, perfeitamente combinados. Lang mostra a sociedade como que num corte transversal, e o espectador assiste aos vetores de duas paralelas comunicantes que evoluem ao mesmo tempo.
Em A ópera dos três vinténs, o que vemos é uma irresistível ascensão de chefes bandidos a opulentos banqueiros. Ela se faz num percurso sinuoso. E do marginal ao monarca, tudo flui em bela identidade. Para além do jogo cúmplice, é o princípio da identidade que se impõe, porque são os mesmos.
O nazismo surgiu logo depois desses filmes para reforçar a ordem segundo a qual o mundo pertence aos gangsters.
Brecht, em particular, insistiu sempre sobre essa identidade. Ela permanece de grande atualidade no mundo, e no país em que vivemos. Mais do que nunca, delinquentes e governantes são uma e mesma coisa.
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