Marcel
Roux nasceu em Bessenay, nas proximidades de Lyon. Nos artigos e poucas notas
disponíveis sobre o artista, aprendemos por repetição sobre sua filiação à escola
lionesa do século XIX. A saber, mística com aspirações elevadas.
Marcel Roux. Les pantins. 1909. |
Puvis de
Chavannes é o exemplo, mas pode ser vista com maior clareza no conjunto: Orsel,
Flandrin, Séon e especialmente, Louis Janmot. Certamente, seu autorretrato do Museu
de Belas Artes de Lyon está entre os mais extraordinários do século XIX. A paleta
é sintética, a linha elegante presente por toda a tela e o olhar penetrante, sério
e meditativo. Sua série de 34 telas, Le
Poème de l'âme, mostra além do profundo sentido religioso, características que
percorrem essa escola, o silêncio, o místico e religioso etc.
Louis Janmot. Autorretrato. 1832. |
Marcel
Roux, por sua vez, descortina outro mundo, há pontos de encontro, mas é algo
particular. O universo de Roux está mais próximo daquele de Rops, Mossa ou von
Bayros.
Marcel Roux. Femme-Flamme. 1909 |
Femme-flamme mostra no centro um corpo
feminino iluminado, feito de chamas, puras labaredas. Ao seu redor, mariposas
são atraídas pela luz e calor. São insetos-homens. Uma porção deles está
espalhada pelo chão, mortos ou em agonia. Aqueles que voam em direção à mulher
são cegos para a carnificina, interessa apenas chegar ao corpo. Serão os próximos exterminados por ela, aqui vista como fatal, com poderes absolutos. O
sexo oposto é frágil e dominado com muita facilidade. No primeiro plano, à
contraluz, vemos outro corpo masculino sem seus braços, uma fumaça denuncia
que tentou tocar na fonte de destruição. Não é um caso isolado, à direita e à
esquerda vemos outras femme-flamme, atraindo
outros corpos. É o mesmo princípio de Les Pantins. Uma gigante nua, brinca com fantoches: corpos masculinos, com suas casacas, monóculos e cartolas.
Mas
é em sua série Danse Macabre que o artista
mostra em especial um lado moral e cristão. A morte se faz presente: como barista,
atrás de um avarento, incitando um suicídio, como inspiração ao artista etc. A
prancha 11, “A criança”, traz uma jovem caminhando, bem vestida e comportada.
Seu olhar é ingênuo e perdido: atravessa o horizonte invisível ao espectador. Está
sendo levada pela mão por uma figura curvada. Não conseguimos ver o rosto, pelas
vestes trata-se de uma mulher. Seus pés e suas mãos não deixam dúvidas: a morte
leva a criança, ela anda sem objetivo, como em transe.
Marcel Roux. Danse macabre, prancha XI. L'enfant. 1909. |
Sylvie
Carlier diz a respeito do artista
[...] marcado pelo misticismo lionês (foi próximo a Paul Borel), produziu uma obra sombria, de universo estranho, povoado de símbolos revelando a demonologia como atestam suas séries Suites fantastique, Danse macabre, Les Maudits, Passions [...]
Sem
dúvidas, Marcel Roux faz parte dos grandes ilustradores simbolistas do século
XIX. De certa forma, se enquadra na escola de Lyon, mas com profundas ligações ao
mundo sombrio e macabro da cultura do final do século XIX.
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