Nota prévia aos precipitados. O Enem é um instrumento muito importante de integração social nas universidades. Este ano, pelo que li, propôs belas questões sobre problemas sociais. Excelente.
Aviso, portanto, que as críticas seguintes NÃO SÃO UM ATAQUE AO ENEM, mas um alerta. Elas se referem a um domínio que conheço um pouco: a análise de obras de arte. É preciso que o Enem se aprimore sempre.
Não sei quem são os responsáveis. Mas constato que não estavam à altura da missão.
Trata-se de questões descabidas, mal formuladas, errôneas e ambíguas. Os candidatos não mereciam isso.
Aviso, portanto, que as críticas seguintes NÃO SÃO UM ATAQUE AO ENEM, mas um alerta. Elas se referem a um domínio que conheço um pouco: a análise de obras de arte. É preciso que o Enem se aprimore sempre.
Não sei quem são os responsáveis. Mas constato que não estavam à altura da missão.
Trata-se de questões descabidas, mal formuladas, errôneas e ambíguas. Os candidatos não mereciam isso.
Vamos lá:
Não sei bem o que quer dizer: a body art estende sua influência ao dias de hoje. A body art é uma prática de nossos dias. Tem uma história. Não ficou no passado, exercendo sua influência sobre os dias de hoje.
Mas vamos às respostas:
A) Em alguns casos, sim. Basta olhar para a fotografia que ilustra a questão.
B) Fazer do corpo um suporte privilegiado de expressão. O texto não diz isso. Se o corpo está no centro da Body Art, há uma longa tradição artística que privilegia o corpo, além da Body Art. Na Body Art, o corpo não é "um suporte". O corpo é a própria presença artística.
C) Sim, claro, a Body art desencadeia discussões (basta lembrar do episódio do MAM-SP invadido). Mas ela própria não discute: ela é motor de discussão.
D) Em certas obras, sem dúvida. o corpo expõe problemas vinculados à autonomia e aos limites do corpo.
E) Sim também, em várias obras. o corpo se destaca e se põe em contato com o público.
Como nenhuma das questões se refere diretamente ao texto, e como, pensando na Body Art, elas são ambíguas e mal formuladas, eu não saberia marcar a certa.
Mas uma coisa eu sei. Não se escreve expectador, como está na questão E, mas espectador.
Mas uma coisa eu sei. Não se escreve expectador, como está na questão E, mas espectador.
2)
Não conhecia o Teatro Mágico. Ao que parece, é um teatro que associa música e espetáculo. A pergunta pressupõe que o pobre aluno saiba o que é a ópera do século XIX.
A) Talvez. Os artistas, suponho, devem se dispor em um espaço, como ocorre na maioria das representações teatrais.
B) Não. Não sei muito bem o que são "linguagens artísticas". Se estamos falando em gênero, a ópera almejou a associação de vários gêneros numa fusão que constituiu um novo gênero, com parâmetros específicos. Nisso, há uma diferença definitiva entre os musicais e as óperas.
C) O que quer dizer "sobreposição", aqui? o texto que é falado sobre um fundo musical, como no melodrama (usando a palavra no sentido rigoroso do termo)? O texto que se integra à música?
D) Manutenção de um diálogo com o público: certas óperas, em certas circunstâncias, interpelam o público. Não sei se é isso o que querem dizer.
E) As óperas adotam um enredo, não sei se o Teatro Mágico faz isso.
Aqui também, permaneço sem saber escolher.
Já bombei!
3)
A) A obra de Grimberg não é simétrica, à primeira vista. Mas, pelo fato de ter um eixo, serve-se da simetria para contradizê-la.
B) Alguém consegue me explicar o que quer dizer "materializar a técnica" (nem tente, porque é apenas uma pergunta retórica para evidenciar o nonsense.) De fato, a obra de Grimberg não tem função utilitária, enquanto a urna servia para receber os restos de um morto. Mas, ao ser transformada em arte, ela também perdeu sua função original.
C) É claro que a obra de Grimberg tem uma estrutura regular muito clara, mas a urna também.
D) "Anular possibilidades de leituras afetivas?" O my God! SOS!
C) "Integrar o suporte em sua constituição". Vou até ali beber uma dose de uísque e volto.
Outro fracasso meu.
4)
A) Não, porque o GPS continua orientando e a bicicleta servindo para o deslocamento.
B Não sei, porque não sei o que seja "perspectiva de funcionamento".
C) Até certo ponto, sim. Mas isso todo mundo faz.
D) Talvez, já que o meio exalta o emprego da bicicleta (ele poderia ter feito isso com um carro).
E) Talvez, porque associa o monumento mais conhecido com uma figura no mapa.
"Ontologia da imagem fotográfica", vejam só que beleza! E eu, que ficaria feliz se os candidatos soubessem responder apenas quem foi o pintor da Batalha de Avaí e o escultor do Monumento às Bandeiras...
A) Ressignificação - essas palavras da moda são plena e completamente cretinas. "Moldes surrealistas!, please! E os surrealistas não significaram nem "ressignificaram" nada com a luz e a sombra. Ainda se fossem os expressionistas...
B) Imposição do acaso sobre a técnica. O acaso foi um grande instrumento criador para os surrealistas. Mas o que significa impor o acaso sobre a técnica? Técnica do acaso não é a mesma coisa que poética do acaso.
C) É uma composição experimental e fragmentada, mas não tem contornos difusos.
D) Não sei o que é "voltada para a própria linguagem fotográfica" (nem tente...)
E) A imitação das formas humanas a partir de objetos diversos é também uma prática do surrealismo.
E, sinceramente, não vejo nenhum distanciamento da representação figurativa. O surrealismo, em sua maior parte, foi eminentemente figurativo.
Bombei, bombei, bombei!
Porque, enfim, isso é uma barbaridade. Quando não é ambíguo é absurdo e vazado em jargão abstruso.
Eu não consegui responder. E, se fosse reprovado no Enem, entraria com recurso.
Ri sozinha, e muito!
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