DOSSIÊ FILMES SOBRE DITADURA BRASILEIRA. III - ON VOUS PARLE DU BRÉSIL: TORTURES, DE CHRIS MARKER, 1969.
O cineasta francês Chris Marker (1921-2012) dirigiu mais de meia centena de filmes, a maior parte de curta duração. Talvez o mais famoso seja La Jetée, uma ficção científica feita com fotomontagem que décadas mais tarde serviria de base para o sucesso Os 12 Macacos. Há em sua filmografia uma série de filmes políticos sobre países da América do Sul, e hoje gostaria de falar sobre um deles, On vous parle du Brésil: Tortures. Antes de abordar esse curta, recomendo a leitura do texto do Eduardo Escorel sobre o cineasta, e também esse pequeno vídeo da pesquisadora Dra Carolina Amaral de Aguiar sobre o cinema latino-americano de Marker.
Introdução feita, vamos ao filme.
Os letreiros iniciais são acompanhados de um ruído crescente, incômodo, como uma bateria carregada de energia pronta a servir ao choque elétrico. Logo o som da cuíca e do tambor se sobrepõem. Tortura. Brasil. Em 4 de setembro de 1969, os militares - que estão no poder há 5 anos e meio no Brasil - recebem uma notícia que os chocam: o embaixador americano Burke Elbrick é sequestrado por um grupo de revolucionários, o MR-8. No carro utilizado no sequestro é encontrado um documento que menciona as duas condições feitas pelos revolucionários para a libertação do embaixador: libertar 15 prisioneiros políticos, cujos nomes serão fornecidos em uma lista, e publicar na imprensa e na tv o texto de seu manifesto. As condições são aceitas. Os prisioneiros políticos são libertos. O embaixador também.
Os prisioneiros são transferidos para o México, alguns seguem para Cuba. É nesse trânsito que Chris Marker filma seus depoimentos, que falam sobretudo das condições nas prisões brasileiras, métodos de torturas dos militares e da perseguição aos companheiros de luta.
Um filme de 23 minutos que funciona como documento, mas que foi feito sobretudo para um público europeu. Com menos de 6 anos de regime militar atuante no Brasil, o mundo ainda não sabia de fato o que se passava nos quartéis e delegacias policiais. Daí a importância dos relatos.
Segue o vídeo no youtube, infelizmente sem as legendas em português para acompanhar as faixas narradas em francês. Pra quem baixar o vídeo e quiser legendas pt-br, manda mensagem que eu as envio por email.
O cineasta francês Chris Marker (1921-2012) dirigiu mais de meia centena de filmes, a maior parte de curta duração. Talvez o mais famoso seja La Jetée, uma ficção científica feita com fotomontagem que décadas mais tarde serviria de base para o sucesso Os 12 Macacos. Há em sua filmografia uma série de filmes políticos sobre países da América do Sul, e hoje gostaria de falar sobre um deles, On vous parle du Brésil: Tortures. Antes de abordar esse curta, recomendo a leitura do texto do Eduardo Escorel sobre o cineasta, e também esse pequeno vídeo da pesquisadora Dra Carolina Amaral de Aguiar sobre o cinema latino-americano de Marker.
Introdução feita, vamos ao filme.
Os letreiros iniciais são acompanhados de um ruído crescente, incômodo, como uma bateria carregada de energia pronta a servir ao choque elétrico. Logo o som da cuíca e do tambor se sobrepõem. Tortura. Brasil. Em 4 de setembro de 1969, os militares - que estão no poder há 5 anos e meio no Brasil - recebem uma notícia que os chocam: o embaixador americano Burke Elbrick é sequestrado por um grupo de revolucionários, o MR-8. No carro utilizado no sequestro é encontrado um documento que menciona as duas condições feitas pelos revolucionários para a libertação do embaixador: libertar 15 prisioneiros políticos, cujos nomes serão fornecidos em uma lista, e publicar na imprensa e na tv o texto de seu manifesto. As condições são aceitas. Os prisioneiros políticos são libertos. O embaixador também.
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Militantes libertos em troca da libertação de Elbrick |
Os prisioneiros são transferidos para o México, alguns seguem para Cuba. É nesse trânsito que Chris Marker filma seus depoimentos, que falam sobretudo das condições nas prisões brasileiras, métodos de torturas dos militares e da perseguição aos companheiros de luta.
Um filme de 23 minutos que funciona como documento, mas que foi feito sobretudo para um público europeu. Com menos de 6 anos de regime militar atuante no Brasil, o mundo ainda não sabia de fato o que se passava nos quartéis e delegacias policiais. Daí a importância dos relatos.
Segue o vídeo no youtube, infelizmente sem as legendas em português para acompanhar as faixas narradas em francês. Pra quem baixar o vídeo e quiser legendas pt-br, manda mensagem que eu as envio por email.
O caráter assustador das declarações adquire convicção de verdade graças ao gênio de Marker. Gênio da neutralidade e do rigor, contrário à eloquência. Tudo é feito de maneira repetida, as histórias são contadas de modo neutro, "objetivo", descritivo e por vezes, didático. Elas se tornam ainda mais neutras graças à tradução que debita as palavras sem expressão. e a câmara se move pouco. Mas, por isso mesmo, o menor movimento, a menor aproximação ou mudança no padrão adquire um alcance expressivo enorme; de fria expressividade. Um fabuloso documentário.
ResponderExcluirMuito boa análise, Jorge. Realmente, não há qualquer sensacionalismo. à primeira vista muito simples, mas com mais atenção nos damos conta do quão preciso e profundo é.
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