A exposição na Pinacoteca de São
Paulo, Trabalho de artista: imagem e
autoimagem (1826-1929) tem diversas qualidades. A junção e em especial a
apresentação das obras é louvável. Imagens de coleções públicas dialogam com
obras mais raras de difícil acesso, pouco vistas.
Um eloquente Pigmalião e Galatéa, de Lucilo de Abuquerque, 1906, do museu Dom João VI.
A modelagem aparente em um busto
de Rodolfo Bernardelli por Zani, de 1910.
Um Timótheo lembra as mulheres
alongadas de John White Alexander.
Entre tantas outras obras
de relevo, saliento o poderoso desenho de Alvim Correa. Ele data de 1902, uma
imagem de seu ateliê em Boitsfort. É um momento delicado para o artista, depois
do casamento com Blanche Barbant muda-se para a Bélgica e logo é necessário a
busca por um novo meio para se manter. Em Paris, as cenas de batalhas,
militares etc. era predileção. Aluno de Detaille, seguiu os passos do mestre
apresentando no final do século XIX no salão de Paris.
Na Bélgica é sabido, realiza em 1903
o conjunto extraordinário de desenhos para a obra de Wells, Guerra dos Mundos. Publicado na
famigerada edição de luxo de 1906, sob a preferência do próprio autor.
O desenho de seu atelier sugere
um espaço controlado. Nada fora do lugar, um pincel, lápis ou vestígios. Um lugar equilibrado, como uma galeria. No chão lustroso vemos os reflexos, na extrema
esquerda e direita vemos os cavaletes, em branco, postos ritmados. Atrás deles
obras são cuidadas e geometricamente postas na parede. Quadro de pequenos
formatos na parede. Duas mesas e três cadeiras em um vão livre.
No mezanino é possível ver um
conjunto de baionetas e fuzis. Um gosto particular do artista ou mais provavelmente
material de trabalho que aparece em diversas pinturas do tempo parisiense. Na
Bélgica dedicou-se majoritariamente ao desenho, inclusive eróticos – assinados como
H.L. Henri Lemort – que podem ser vistos em conjunto com outros artistas do
final do século.
Sem paleta, potes ou tintas, a ausência do material do artista marca o espaço. O promissor pintor, torna-se um exímio desenhista. Seu atelier de algum modo
indica seu desejo pela pintura, sempre constante.
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