O filme Rambo I (First Blood; no Brasil, Programado para matar - 1982) é forte de um ponto de vista cinematográfico. Foi realizado por Ted Kotcheff, autor de um cintilante Quem está matando os grandes chefes? (1978), estrelando o grande Robert Morley.
Neste último Rambo, o México é mostrado como caricatura de um país mau-caráter, mafioso e cruel. E, sobretudo, o filme celebra as armas e a autodefesa. É o retorno ao principio do Western (apenas ao princípio, não à grandeza) segundo o qual é preciso contar apenas consigo próprio para se proteger.
Fora dos Estados Unidos é o caos ameaçador (e, por sinal, a fronteira é mostrada no filme como uma risível cerca de arame farpado, que Rambo não tem a menor dificuldade em atravessar com sua caminhonete). E, está claro, na minha casa, na minha propriedade, ninguém pode comigo.
Estamos, portanto, no oposto do primeiro Rambo, que sofre, agora, uma traição completa.
Rambo I se construía sobre uma crítica à paranoia da classe média norte-americana, apavorada diante de tudo o que seja estranho, diverso dela mesma. Um medo que provoca comportamentos de autodefesa. Uma estúpida cidadezinha pacata não suporta a presença de um homem esquisito que a atravessa.
Os filmes seguintes da saga Rambo alteraram a inflexão: Rambo luta contra os inimigos dos Estados Unidos durante uma guerra fria que já estava morna, e depois dela. Mas o combate én longe, em lugares bizarros: Afeganistão, Birmânia, e sei lá mais onde. Perderam o primitivo traço crítico, acentuando o valor do herói soldado.
Rambo V (Last blood; no Brasil Até o fim, deste ano) volta a se passar nos Estados Unidos, ao menos em parte. Agora, porém, aderiu por inteiro ao clima retrógrado que envolve o mundo. É um Rambo de Trump e de Bolsonaro.
Neste último Rambo, o México é mostrado como caricatura de um país mau-caráter, mafioso e cruel. E, sobretudo, o filme celebra as armas e a autodefesa. É o retorno ao principio do Western (apenas ao princípio, não à grandeza) segundo o qual é preciso contar apenas consigo próprio para se proteger.
Fora dos Estados Unidos é o caos ameaçador (e, por sinal, a fronteira é mostrada no filme como uma risível cerca de arame farpado, que Rambo não tem a menor dificuldade em atravessar com sua caminhonete). E, está claro, na minha casa, na minha propriedade, ninguém pode comigo.
Estamos, portanto, no oposto do primeiro Rambo, que sofre, agora, uma traição completa.
O roteiro é patético, os diálogos são ineptos. Resta a presença de Stallone, que se impõe, poderosa, e o fato de que o diretor Adrian Grunberg tem personalidade estilística, com real sentido da imagem cinematográfica.
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