The Stalking Moon - no Brasil chamou-se A noite da emboscada. Não há nenhuma história de lua no filme; o título em inglês serve para dar um tom de mistério ou mágica exótica entre índios. Data de 1968. Seu diretor, Robert Mulligan, centra tudo num único personagem, Sam Varner. Nele, não apenas a história se centra, mas dele a própria imagem parece emanar. O Cinemascope é empregado não para desvendar amplidões, mas para situar bloqueios visuais.
Varner auxiliava o exército como guia; o filme começa no momento em que abandona essa função para tornar-se fazendeiro. O ator é Gregory Peck; emana dele uma força interna e silenciosa. Nada de efeitos dramáticos, à maneira de Sergio Leone (Clint Eastwood surgindo como uma aparição, contra a luz, visto de baixo para cima). Tudo é simples e quieto. Há poucos diálogos e muitos mistérios, que se advinham mais do que se deixam descobrir.
O tema é politicamente incorreto; índio assassino hábil e cruel, que massacra a todos por onde passa; responsável pelo estupro de uma branca, com quem teve um filho. É atrás desse filho que ele desencadeia a perseguição. Seu rosto não é visto até o final da busca. O herói branco é o protetor, contra a maldade do índio, cujo nome, Salvage, não podia ser mais explícito.

Varner auxiliava o exército como guia; o filme começa no momento em que abandona essa função para tornar-se fazendeiro. O ator é Gregory Peck; emana dele uma força interna e silenciosa. Nada de efeitos dramáticos, à maneira de Sergio Leone (Clint Eastwood surgindo como uma aparição, contra a luz, visto de baixo para cima). Tudo é simples e quieto. Há poucos diálogos e muitos mistérios, que se advinham mais do que se deixam descobrir.
O tema é politicamente incorreto; índio assassino hábil e cruel, que massacra a todos por onde passa; responsável pelo estupro de uma branca, com quem teve um filho. É atrás desse filho que ele desencadeia a perseguição. Seu rosto não é visto até o final da busca. O herói branco é o protetor, contra a maldade do índio, cujo nome, Salvage, não podia ser mais explícito.

Para sua data, The Stalking Moon é anacrônico. Broken arrow, de Delmer Daves, tido como o primeiro faroeste a dar uma visão positiva dos índios, foi feito em 1950. Porém, no filme de Mulligan, importa, na verdade, o peso da ameaça sem suspense, mais consciente do que sentida, cuja fatalidade é menos angústia do que previsão. Nisso, tem algo de um teorema metafísico.
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É fácil reconhecer um film noir. É bem mais difícil definir.
Há o estilo da fotografia feito com sombras dramáticas e misteriosas, herdado do expressionismo alemão - mas há também films noirs implacavelmente luminosos. Há os clichês: o detetive que vai de mistério em mistério, a vamp fatal e dúbia - mas há também films noirs que não têm nada disso. O film noir expõe o fundo trágico da existência contemporânea; não acredito que seja apenas uma coincidência sua contemporaneidade à filosofia existencialista: ambos banham em mesmos sentimentos e preocupações coletivos dos anos durante os quais floresceram. O film noir sempre coexiste com o momento em que é feito.
Há o estilo da fotografia feito com sombras dramáticas e misteriosas, herdado do expressionismo alemão - mas há também films noirs implacavelmente luminosos. Há os clichês: o detetive que vai de mistério em mistério, a vamp fatal e dúbia - mas há também films noirs que não têm nada disso. O film noir expõe o fundo trágico da existência contemporânea; não acredito que seja apenas uma coincidência sua contemporaneidade à filosofia existencialista: ambos banham em mesmos sentimentos e preocupações coletivos dos anos durante os quais floresceram. O film noir sempre coexiste com o momento em que é feito.
The black book (outro título é Reign of Terror, no Brasil: A sombra da guilhotina, de Anthony Mann, 1949) possui todas as características que assinalei, menos a última, que é a mais essencial! Ele se passa no momento da queda de Robespierre, durante a revolução francesa. Tem cuidado com a exatidão dos acontecimentos, mas associa a eles uma trama focada em alguns personagens fictícios cruciais (como fazia Alexandre Dumas em 20 anos depois, por exemplo, em que os três mosqueteiros tentam salvar o rei Carlos I da Inglaterra, e em que Athos está escondido sob o cadafalso, recebendo a última palavra do soberano - que ele de fato pronunciou e que foi Remember!). Não houve nenhum Black Book essencial para a queda de Robespierre: ele é um MacGuffin apenas.
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Richard Basehart no papel de Robespierre |
A contemporaneidade, porém, se não é direta, é metafórica. A guerra fria começava. Robespierre aparece como líder cruel, que tem prazer em assassinar os inimigos, como um serial killer. A seguinte frase, que diz no filme: dead enemies make good friends, se pronunciada em russo, não ficaria deslocada na boca de Stálin.
John Alton, que foi um mestre, fotografou alguns dos mais importantes films noirs e é responsável pelas magnificas imagens de The black book. Sua colaboração com Anthony Mann resultou numa obra original, poderosa. Ela sustenta um tom nobre apesar da crueldade que pontua o filme (um crítico evocou o Marquês de Sade a seu respeito).
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