Quando é de tirar o fôlego


Sensação pura e sem mistura de felicidade. Quando terminou Dà zuì xiá, ou Come drink with me, ou O grande mestre beberrão ou, melhor título de todos, o francês L'hirondelle d'or, a Andorinha de Ouro.



Seu diretor é King Hu, e foi realizado em 1966. É um wu xia pian, gênero do "filme de sabre chinês", em que o herói é feito do melhor cavalheirismo aristocrático (mesmo que ele possa surgir como um mendigo bêbado...). Em todo caso, é um filme, todo ele, supremamente aristocrático, o adjetivo que o define perfeitamente.




A estrela, Cheng Pei-pei, foi escolhida pelo diretor por ter uma formação em balé clássico. Sua postura, quando entra o albergue sórdido, como um adolescente, tem  elegância e requinte perfeitos. Graças a este filme tornou-se uma celebridade, e foi chamada "a rainha do wu xia pian".



Alternam-se explosões dionisíacas de luta e um quase imobilismo em tensões impensáveis. A música, sobretudo de percussão, como que se infiltra fisicamente no espectador. Aqui e ali, emergem cenas musicais com crianças cuja intensidade toma conta da tela. Tudo é pulsação.



O espaço é sempre controlado. Mesmo no exterior, ele não se expande, mas se disciplina na organização de seus próprios limites.



Ngok Wah assume o protagonista masculino, o Gato Bêbado, que passa do alívio cômico ao heroísmo. É o contraponto à perfeição contida da Andorinha de Ouro em seus movimentos.


Ao que parece, o personagem vem de uma peça popular chinesa, O mendigo bêbado. King Hu introduz esse elemento popular num âmbito de audácias muito sofisticadas.


É pelo Gato Bêbado que a perfeição invulnerável da Andorinha de Ouro desmorona na segunda parte do filme, fazendo brotar sua condição que pode também ser frágil.

Com maquiagem perversa, o ator Cheng Hung-Lien, o terceiro cuja carreira se projetou graças a este filme, é espantoso de expressividade maligna. Encarna O Tigre-Com-Face-de-Jade, o vilão.







Não deixe o coronavírus pegar você. Ao menos, não antes de ver este filme.


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